quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Mesmo o Bem divide !

Me lembro que quando criança, meu pai (O Sr. Brandão) ia me buscar na casa dos meus avós para passar o final-de-semana com ele.
Eu fui criado pelos avós maternos porque meus pais separaram e nenhum, nem outro tinham condições de ter um filho naquele momento. Meu pai bem que tentou, mas não conseguiu, meus avós não deixaram que ele me levasse.
O Sr. Brandão é um desses caudilhos, homens como não existe mais hoje, é tudo ao mesmo tempo, um estúpido, grosso, polido, carinhoso, adorável, cuidadoso, bem belicoso (bom de briga), esportista... É o herói que eu não vou conseguir ser... talvez por isso eu o ame tanto.

Bem, voltando ao relato, ele me buscava.
Era um PM recém iniciado, um cabo, desde onde eu me lembro.
Morava numa casa de madeira, com algumas frestas nas paredes, lá no morro da polícia.

Mas era uma casa de uma limpeza e organização invejáveis... ainda sinto o cheiro do fogão a lenha. Ainda me lembro dos mochinhos de madeira, da bacia de zinco onde tomavamos banho, do crucifixo na parede, onde ele sempre ajoelhava-se e rezava o pai nosso e a Ave Maria antes de dormir.

Com meu pai aprendi que duma boa briga não se pode fugir... as vezes até se busca pelo prazer da empreitada... aprendi que deve-se escovar os dentes muitas vezes pra ter um sorriso grande... aprendi a gostar de Deus, e a conversar com ele a noite... aprendi que independente dos trocados (ou falta deles na guaiaca) não diminue o prazer que a companhia da gente pode representar... aprendi que os filhos a gente educa pelo exemplo... e com algumas coisas simples pintadas no cotidiano...

Ele me levava para subir o morro da polícia nos finais de semana, jogavamos futebol no capão, e terminavamos as tardes no topo do morro "olhando Porto Alegre "ascender""  e como era bonito quando a cidade ligava, aos poucos... e a gente sentado esperando terminar o "entrevero" pra ir pra casa... sujos... com cede... suados... e relembrando as jogadas...

Uma vez me levou numa festa da Brigada Militar para andar a cavalo... era uma festa grande... da "empresa" dele,logo ele não tinha custo com aquilo e podia me proporcionar...

Me lembro que ele voltou a estudar (veio de Catuípe sem muito estudo) ...
As vezes ele me levava pra jogar na praça perto do campo da Tuca... contra os marginais... era bem divertido... eles nos respeitavam... assim aprendi a jogar futebol como se fosse sempre a última partida e sangrando pra não perder nunca...

Por vezes, ele nos lia histórias bíblicas, num livro ilustrado de capa amarela... lia um capitulo por encontro... e em muitas vezes, pegava o violão e declamava uma poesia gaudéria, quase sempre do Jaime Caetano Braum... ele era fã...

Pela companhia do meu pai eu pensava a semana inteira sobre a oportunidade de estar com ele...

Mas, por outro lado... eu passava a semana inteira num casarão, paparicado pela Dna Iracema, que criou a mim e a outros netos também... tirando dela pra nos fazer bem... (noutro post eu vou descrever aquela velha gorda e linda que me deixou nessa vida com um tremendo vazio)

(afff.... pausa !)

Quando chegava o sábado de manhã... quando era pra ser bom... ficava ruim...
Me vinha um nó na garganta, um aperto no peito, uma dor de morte (isso aconteceu até eu ficar grandinho)... me lembro bem da sensação...

Como eu poderia ir com um e deixar o outro ??
Era uma divisão que queimava... e eu cresci com aquilo...

Mas era um ritual necessário... minha avó sabia que eu sofria... ela separava minhas roupinhas de final-de-semana para eu ir com o Sr. Brandão.

Lá eu ia.... e só voltava a sofrer no domingo de noite, quando tinha que voltar para Dna Iracema e deixar o Sr. Brandão.


Então, me lembrei que mesmo o bem divide...

Eu adoro meu trabalho, ganho uma boa grana pra fazer o que eu faço com gosto... e o melhor no meu trabalho é poder viajar pra muitos lugares, conhecer muita gente diferente, beber, comer bem, negociar, despejar meus conhecimentos de gestor de negócios... conhecer fábricas... ampliar os meus conhecimentos...

Mas esta viagem pra Joinvile, me trouxe a sensação de morte de novo...

Sair de perto dessa gente que eu amo tanto... longe das minhas filhas... longe das minhas coisas... e ainda tem essa idéia de férias...

... mas eu preciso exercer minha função, que eu também gosto tanto...

Enfim, o bem divide... mas eu sobrevivo...porque...

Eu gosto do estrago

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