sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

ERRAR É HUMANO

Errar é humano...
Eu envelheci ouvindo essa sentença... (não vou dizer que cresci ouvindo... por que algum engraçadinho (a) vai fazer piada).
Eu sempre errei muito, porque não penso muito antes de fazer as coisas que eu ouvi do meu coração. Tipo: “na emoção eu pulo, depois eu percebo que não dava”.
Sempre foi assim... Eu não tenho noção mesmo.
Tinha um amigo, o Gói. Era meu único amigo que tinha uma bicicleta com o bagageiro serrado, daí a gente planejava que eu guiava e ele ia de pé atrás... com os pés no bagageiro serrado e segurando-se no piloto. As vezes o Gói ia pilotando, eu de pé. Preferia ir de pé. Mas a gente foi ficando bom naquilo e eu sugeri pro Gói que precisávamos ir além. Iamos montar uma rampa com compensado e correr em alta velocidade e saltar a rampa... um pilotando e ou de pé, atrás da bicicleta... (a bike, como a gente chamava)
Engendramos a rampa magnificamente... alta, longa... veloz... Sorriamos olhando pro invento e imaginando o grande salto cinematográfico... nos posicionamos, eu de pé, o Gói guiando... tudo ia dar certo... na nossa visão romântica de voar... pois, pela lógica, tinha tudo pra dar errado... Ganhamos distância, nos preparamos... corriamos a alta velocidade... a rampa se aproximava... uma platéia sentada no cordão da calçada... a rampa se aproximando... a barriga gelando... a adrenalina a mil... a rampa crescendo.... o Gói suando... estávamos muito rápido... atingimos a rampa... as madeiras cederam... a rampa balançou... eu balancei... o Gói, arregalou os olhos (assim contaram os torcedores)... vencemos a rampa... voamos... e aquela sensação de liberdade... vencemos a rampa... estávamos no ar... me lembro como se fosse ontem... daí começamos a descer... o Gói gritou (uhuu !!!) estávamos no ar... segundos, mas passou muito tempo... a bike caia freneticamente... e inclinando pra frente, cada vez mais... voltou o frio na barriga... o vento rápido no rosto... o pneu da frente não tocava nunca no chão... até que tocou... não pensamos na queda... só no vôo... caímos os dois, na calçada de lage... o göi bateu com a cara no chão e saiu esfolando por algum tempo.. eu estava atrás... voei sem o Gói e sem a bicicleta... voei solito... até que atingi o solo... bati com o ombro no chão... depois rolei pela calçada... a bicicleta do Gói ficou imprestável... eu sentia muita dor e chorava... o Gói tava com a cara toda esfolada... quando olhou pra mim ficou mais preocupado... eu tinha uma coisa brilhante cravada no ombro... o Gói aproximou-se e tirou... era um caco de vidro...
Carrego a cicatriz no ombro até hoje... e sempre me lembro do vôo... nunca me lembro do caco de vidro cravado na carne... o sangue.... a cara escalavrada do Gói... a dor... nunca penso nisso... lembro do vôo, do engendro da rampa... perfeita... não cedeu...
Mas erramos... eu e o Gói erramos... não dava para termos saltado os dois na bike... não dava pra ser tão alta a rampa... não tinha como dar certo...
Então... erramos, mas foi uma aventura e tanto...
Nós nunca nos culpamos pelo erro... lembrávamos do vôo...
Daí hoje eu erro... faço coisas erradas... me equivoco... continuo pensando só no vôo... mas não acho justo ser culpado porque amo... porque mando flor... porque canto a canção... por que eu amo... errar é humano... e eu sou tri humano...
Vou continuar errando... mas vai ser sempre pelo vôo...

Eu gosto do estrago

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