terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Coletividade

A coletividade é uma coisa esquisita. A sabe o significado, mas o que traz, de fato, é uma incógnita.
Eu ando pelas ruas dessa Porto Alegre contrastante e vejo galerinhas um tanto quanto esquisitas pela redenção, por exemplo.
No último domingo, tinham os grupinhos de moleques vestidos de capas pretas, com capuz num sol de verão em Porto Alegre. Tem os cabelos multicoloridos e os não lavados também. Tem as meninas com shortinhos jeans sobrepondo meia calças rasgadas.
Isso me choca hoje. Fico pensando que as vezes a Mabi me pareceu estranha, aparecia toda de preto e branco, com olhos negros e acompanhados de um olhar melancólico.
Tudo muito esquisito, muito fora.

Me lembro então que certa vez eu li sobre esses grupos e sobre os punks, os skinheads, sobre os góticos, sobre os rappers... Grupos estabelecidos informalmente com identidades visuais coletivas. A esquisitice é a principal marca dessa identidade.

De certa forma, pelo artigo que li sobre o tema, ficou claro pra mim que as pessoas como formas de defesa se transformam fisicamente, mudam as roupas, os hábitos, para que possam se proteger dos seus próprios medos. Sim, não há identidade com o meio em que vivem, abraçam-se numa causa que entendem como representativa e adotam um grupo. São medos da articulação. É um esperar que o mundo seja simpático à si, e não que se possa dispensar algum esforço para ser simpático ao mundo. Eu tenho meu mundo ao meu redor, logo, posso transitar por todos esses grupos sendo quem eu de fato sou.

Eu mesmo já passei por coisas esquisitas do tipo; ouvi de um fã: “Cara, a banda é ótima, e o tiozinho ali, manda muito”; “Quando tu me disse que cantava rock, eu não te dava um copo d'água, mas depois de te ver cantando, gostei muito”; “eu não acredito que tu tens uma banda de rock, nem parece um roqueiro”.

Gente, eu já me protegi vestido de alguma coisa que não era eu. Em 1990, eu ia pra escola vestindo calças de cotton rasgandas e pintava os olhos. Preto. Escuro. Eu tinha um grupo definido, o dos caras que ouviam guns n´roses. Eu era um poser que tinha cabelo ruim e – por isso – não deixava o cabelo crescer.

Noutro momento, eu deixei o cabelo crescer. Que engano! Meu cabelo não desce, só sobe, é ruim. No entanto eu desfilava pela cidade provocando minhas estranhezas. Eu era alguma coisa do tipo Carlinhos Carneiro, bagunçado...

Eu fiz isso por algum momento porque eu não estava inteiro, não gostava de mim suficientemente desse jeito que eu sou, comum.
Um gordinho fronha, baixinho e com cara de atendente na repartição pública.
Vendedor de queijos...vendedor de morcilas, no armazém..

Mas essa é minha identidade.

Mais estranheza me causou outro dia em que eu me dei conta de que estava em casa colocando um terno, sobre o meu corpo desajustado e pequeno, cheio de riscos (tatuagens), que já escorreu suor por pular de mezaninos em alguns bares do estado. Um terno pra jantar na companhia do prefeito e do governador do estado

Sim, meu grupo agora é o dos caras de terno e gravata que discutem economia, dinheiro, EBITS, rentabilidade... Dos caras que falam de estruturas sociais... putz, corro o risco de ser um estranho entre os meus amigos do Paulo da Gama, ser um esquisito entre os meus amigos de Art & Bar.

No entanto, não é a roupa que eu visto ou o visual que eu apresento que faz de mim um individuo mais ou menos acessível a todos os grupos. Sim, eu transito bem entre todas as trupes que eu conheço, e isso me faz feliz. Eu me pluralizei, e isso foi quando eu percebi que sem o brinco de argola, com o cabelo raspado, com a barriga aparando os farelos do que eu como, de bermuda ou num terno, eu sou o Lauro. Esse cara que discute dinheiro e produção de dia, cuida das filhas no final de semana, enche a cara e pergunta: “quem quer viver ?” numa noite qualquer.

Eu não acho esquisitos os grupos, pela esquisitice que apresentam para os meus padrões. Acho esquisito que eles façam isso pra fechar-se num grupo de menos pessoas e não interagem com os demais. Alguns se odeiam. E eu tenho um medo disso, me reporta ao Hitler.

Bem, pra finalizar, eu sou eu mesmo. E sou acessível a todo mundo que quiser a minha companhia, e as minha idiossincrasias. E ando tri a fim de dividir a minha felicidade com quem quer que seja, tenha o cabelo raspado, a orelha furada, o terno gringo ou a tatuagem fuleira. Só não quero ser discriminado por ser ciumento, gordo, simplório, sincero, pavio curto. Tudo isso sou eu. E o tempo faz a gente acomodar todas as coisas nessa coletividade que a gente pode ser.

Fica a dica !

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